Roteiro: Budapeste, a cidade dividida que une os amantes de viagens
Budapeste é muitas vezes apelidada de “Paris de Leste”. É uma boa comparação, contudo, Budapeste tem uma identidade muito própria, merece mais do que ser a “irmã gémea” de uma qualquer outra cidade, mesmo que esta seja Paris. Budapeste é fervilhante e carismática. Budapeste tem vida e vontade de viver. Budapeste é jovem e moderna, o que é incrível, se pensarmos que durante décadas esteve sob o domínio de dois regimes bem diferentes, que na prática não foram assim tão diferentes para quem lá viveu, primeiro a ditadura nazi e depois, até 1991, submissa à União Soviética. Apesar desse grande período negro da sua história, ainda são bem visíveis na cidade, traços do imperialismo e grandiosidade do Império austro-húngaro. Budapeste foi grande, caiu e renasceu das suas próprias cinzas, tal qual uma fénix.
A cidade conta a sua própria história e consegue satisfazer todo o tipo de turistas, os que procuram história mundial, os amantes de arquitetura, os apreciadores de arte e os que querem apenas desfrutar do que uma metrópole europeia tem para oferecer. Foi aqui que terminou a nossa viagem pela Europa Central (Munique, Salzburgo, Viena foram as passagens anteriores) e não podia ter terminado de melhor forma. Acompanhem-nos neste roteiro, porque quando terminar vão querer estar a fazer as malas com partida para a Hungria.
Chegamos a Budapeste ao final da tarde, de autocarro, a partir de Viena. Viajámos com a companhia Flixbus (dica de uma funcionária muito prestável do nosso hotel de Viena) por cerca de 19€ por pessoa, mas se comprarem bilhete com alguma antecedência podem conseguir um preço mais baixo. O percurso do autocarro termina numa estação periférica, pelo que a partir daí é necessário apanhar outro transporte para o centro da cidade. Nós optámos pelo metro, visto que há uma estação mesmo do outro lado da rua e aí tivemos o nosso primeiro dissabor em Budapeste. Como não tínhamos ainda florins e não havia uma caixa multibanco por perto, arriscámos e fizemos aquela primeira viagem até ao hotel sem bilhete. Conclusão: à chegada ao destino fomos “apanhados” por ticket inspectors que não perdoaram a nossa falha de turista e pagámos logo ali no momento uma multa de cerca de 50€ pelos dois. Portanto, aprendam com os nossos erros e nunca facilitem, porque durante a nossa estadia na cidade, fomos mais vezes abordados por inspetores, e descobrimos entretanto que é mesmo muito comum fazerem este controlo. Um pouco desanimados, dirigimo-nos ao hotel, que era ainda mais central do que imaginávamos, o que nos permitiu explorar grande parte da cidade a pé. Optámos por ficar no lado de Peste, uma vez que é onde se encontram a maior parte dos serviços e mais ligações de transportes. Pedimos umas recomendações, saímos para jantar e bam! Extâse! Damos por nós junto ao rio com o castelo Buda e a Igreja Mathias mesmo à nossa frente, maravilhosamente iluminados.
Budapeste é linda, mas á noite é “breathtaking” (desculpem o estrangeirismo, mas é a palavra que insistentemente me vem à cabeça e não conseguimos descrevê-lo de outra forma). Pronto, já estávamos novamente animados e já nem nos lembrávamos da multa. Acabámos por jantar ali perto, numa zona com bastantes restaurantes e bares, de ambiente jovem e não muito turístico. Gostámos tanto desta zona que acabámos por jantar aqui novamente na última noite. Aliás, em Budapeste há tantos restaurantes, tão apelativos, que o difícil é decidir em qual deles entrar (e nós até somos pessoas bastante decididas no que toca a comida).
Na manhã seguinte, decidimos começar por visitar a catedral de Santo Estevão, que ficava a 500 metros do nosso hotel. Linda! Tal qual uma catedral europeia. De lá, pela proximidade, seguimos a pé para o Parlamento, o ícone da cidade. Há vários horários de visita, em diferentes línguas, mas como queríamos visita em inglês ou espanhol (esqueçam o português), já só conseguimos comprar bilhete para as 16h. Se preferirem, podem optar por comprar o vosso bilhete antecipadamente, online. Como ainda era cedo e o sol estava presente (tínhamos visto previsões de chuva), aproveitamos para explorar o lado de Buda. Seguimos a pé ao longo do Danúbio, e de caminho ainda passámos pelo Memorial dos Sapatos, uma homenagem aos judeus executados durante a Segunda Guerra Mundial, ali mesmo nas margens do rio.
Atravessámos a icónica ponte das Correntes e já estávamos do lado de Peste, em frente ao funicular que sobe até ao castelo. O espírito era de caminhada, por isso, dispensamos o funicular e subimos a pé mesmo, o que na verdade não custa nada e ainda nos dá uma bela vista do lado de Peste com o Parlamento em destaque. Lá em cima, o melhor é perder-se pelas ruazinhas de Buda porque, inevitavelmente, vão acabar por chocar com as principais atrações que existem nessa área: o Castelo, o Bastião dos Pescadores e a Igreja Mathias, as duas últimas lado a lado.
Quanto ao castelo, abriga atualmente o Museu da História de Budapeste e a Galeria nacional Húngara, mas acabámos por não entrar, uma vez que estavámos com o tempo contado por causa da visita ao Parlamento. Ficámos mesmo só a admirar o exterior, os belos jardins e vista sobre a cidade. Quando descemos para voltar a Peste, parámos a almoçar junto à ponte, uma especialidade típica chamada lángos. Uma espécie de pizza, com massa frita coberta com queijo ralado e ketchup, na sua versão mais comum. Não ficámos fãs e tentámos compensar com um doce típico da Transilvânia que se vendia numa barraquinha de rua, o Kürtőskalács (não, não decoramos este nome, tivemos que recorrer ao Google mesmo), uma espécie de bolo de forma cilíndrica que pode depois ser coberto com diversos ingredientes. Optámos pelo tradicional, o açúcar e canela. Era bonzinho, mas também não ficámos fãs. Nova caminhada para desgastar o almoço e visita ao Parlamento, uma visita que superou as expetativas. Não só pela beleza do edifício mas pela história que contém. A visita é guiada e dá para aprender bastante sobre a história política do país.
No final deste dia, e porque depois de tanta caminhada já merecíamos um tratamento especial, fomos experimentar os famosos banhos termais de Budapeste, uma das experiências mais ansiadas. E que sensação! 8C no exterior e nós submersos numa calorosa piscina a 37C com o ceú estrelado no nosso horizonte. Melhor, só quando começou a chuviscar. Entramos às 18h, saímos ás 21h, praticamente obrigados e totalmente “encurrilhados”. Há imensos banhos termais na cidade, com diferentes preços, mas optámos por conhecer um dos mais antigos e famosos, os Széchenyi. Uma das coisas mais lidas quando pesquisávamos Széchenyi eram os senhores de idade avançada que ficavam dentro da piscina a jogar xadrez durante horas. E lá estavam eles, tal como tantas vezes lemos. E quem pode censurá-los? Não dá vontade de sair de lá por nada. A entrada dá para o dia todo e custa cerca de 15€ com direito a cabine e 13€ com direito a cacifo. Como vão precisar de uma cabine para se trocarem, podem optar por comprar uma entrada com cabine e outra com cacifo e utilizam a mesma cabine. O sistema de chaves é meio estranho mas bastante prático. À entrada é-nos dada uma espécie de pulseira plástica com um sensor eletrónico que tem de ser lida num monitor onde nos é então atribuído um número de cabine ou cacifo. A partir daí o sistema é o mesmo, encostar o sensor à fechadura da cabine ou do cacifo para abrir, fechar, colocar a pulseira e não precisam mais de se preocupar com chaves nem cadeados. Claro que nenhum funcionário das termas nos explicou isto e por isso andámos lá a fazer figura de tolinhos até encontrarmos umas portuguesas que nos explicaram isto. Portanto, de nada, agradeçam-nos depois. Existem várias piscinas, interiores e exteriores, com diferentes temperaturas, e todas podem ser utilizadas, contudo algumas encerram mais cedo, por volta das 19h.
Outra das maiores atrações de Budapeste são os ruin bars e nós, que ainda não estávamos cansados de estreias, lá fomos, com uma nova energia, conhecer o mais famoso de todos eles, o Szimpla. Estes bares encontram-se no distrito judeu e estão carregados de história. Começaram a aparecer após a Segunda Guerra Mundial, quando muitas das casas do gueto estavam abandonadas e começaram a ser utilizadas pela população como espaços de reunião e discussão cultural. À falta de apoio do governo, foram sendo decorados com o que mais ninguém queria, verdadeiramente decorados com lixo, até que nosso século começaram a receber eventos culturais e a ganhar outra atenção por parte do governo. Continuam a ser verdadeiras ruínas, mas das mais criativas e estapafúrdias que possam imaginar, decorados com bicicletas, ecrãs de tv antigos, manequins, bonecos de lata, cabeleiras e por aí fora. Vale mesmo a pena visitar um pela singularidade destes espaços. Não há igual em outro lugar. Como já foi referido, vistámos o Szimpla que se divide em diferentes espaços e inclui até um jardim. Tem DJ a animar as noites e animação é mesmo a palavra de ordem.
No dia seguinte acordámos para uma cidade chuvosa, o pesadelo de qualquer turista. Por esse motivo decidimos comprar bilhete para o autocarro turístico, para podermos ter uma perspetiva global da cidade enquanto nos deslocávamos entre os diferentes pontos. A verdade é que isso não nos trouxe grandes vantagens, uma vez que os horários eram bastante limitados e a viagem pela cidade um pouco extensa. Cada bilhete custou cerca de 25€ com direito a viagem de barco pelo Danúbio, mas até os horários das viagens de barco eram muito limitados, pelo que não recomendamos este serviço.
Durante este dia, aproveitamos para visitar o Museu Casa do Terror, na esperança de que quando saíssemos, o sol já tivesse substituído a chuva. Gostamos imenso deste museu, se é que isso se pode dizer. Todo o museu inspira a um clima de terror e tem um ambiente um pouco pesado, mas o objetivo é mesmo esse, fazer-nos entrar na era do terror que se viveu em Budapeste e no resto da Hungria durante os períodos nazi e comunista. Foi onde aprendemos mais sobre a história do país durante esse período, um tema que nos desperta sempre muito interesse por ser um passado tão recente, e na nossa opinião, por esse motivo, deve ser visitado.
O museu fica na avenida Andrássy, uma das mais emblemáticas da cidade, pelas suas belas fachadas e por ser onde se encontram as lojas das grandes marcas. É aqui também que fica a Ópera de Budapeste. Num dia de bom tempo, aproveitem, caminhem pela avenida e espreitem as montras. No nosso caso não deu para fazer isso porque continuou a chover, pelo que a única caminhada que fizemos pela avenida foi à noite, na noite anterior, uma vez que o nosso hotel ficava numa rua paralela a essa.
Autocarro novamente, direção Citadella, no topo da colina Gellert, com direito a passagem pela Praça dos Heróis. A Citadella é o ponto mais alto de Buda, onde os Habsburgos construíram um forte como símbolo do seu domínio sobre a cidade. Hoje em dia, as pessoas sobem até lá, pois é da Citadella que se tem a melhor vista sobre a cidade, o rio e as suas pontes. Mais uma vez, a chuva estragou um pouco a diversão, mas mesmo assim deu para ver tudo direitinho, uma vez que pelo menos não havia nevoeiro.
Como estava próxima a hora do lanche e queríamos era refugiar-nos um pouco num local quente e abrigado, dirigimo-nos ao New York café, no hotel Boscolo, inaugurado em 1894 e desde aí conhecido como o café mais bonito do mundo, como o mesmo vaidosamente anuncia. Se é o mais bonito do mundo ou não, não sabemos, mas é bonito mesmo. De decoração clássica e glamorosa, faz-nos sentir como se estivéssemos noutra época. Tomámos um chocolate quente, mas não um qualquer, um chocolate quente com paprika, o produto estrela da cidade, como vão perceber quando lá chegarem e virem paprika em todo o lado, desde ímans, a quadros, a canecas e afins. Portanto, foi um lanche extra hot, mas MESMO extra hot. Não aconselhado a pessoas sensíveis a picante, a menos que queiram sair do café New York em lágrimas e como se tivessem feito a meia maratona.
Para o final do dia, estava reservado, o momento mais especial da viagem, o passeio noturno de barco pelo Danúbio. Já referimos aqui que adoramos cidades à noite? Pois bem, estávamos no paraíso! Budapeste à noite é mágica, com os monumentos junto ao rio brilhantemente iluminados. Se não conseguíssemos ver mais nada da cidade, a viagem já estava ganha mesmo assim. É algo de cinematográfico, que não conseguimos aqui descrever. Vão e vejam. E apaixonem-se.
Notas:
Mês escolhido: Fevereiro
Orçamento para estes três dias: Aproximadamente 300 euros por casal (para despesas de refeições, transportes, entradas nos monumentos, bares e discotecas);
Como chegámos lá: Autocarro da Flixbus (19€) de Viena a Budapeste (três horas de viagem)
Preço médio da refeição: Se for em restaurante, com entrada, prato, copo de vinho e sobremesa, pagam aproximadamente 20 euros por pessoa;
Alojamento: 12 Revay Hotel perto da Catedral Santo Estevão, 126€ por três noites, com pequeno almoço.