O fantástico mundo do outro lado do mundo: Roteiro Melbourne e Great Ocean Road
Mesmo antes de sabermos que queríamos casar, já sabíamos que escolheríamos a Austrália como destino de Lua de mel. E, embora tenhamos hesitado, na hora de tomar essa decisão, principalmente por questões monetárias, decidimos manter-nos fiéis aos nossos instintos. Decidimos manter-nos fiéis ao plano inicial e aproveitar o tempo extra de férias que uma licença de casamento nos oferece, para fazer a viagem mais longínqua e aventureira das nossas vidas. Porquê a Austrália? Precisamente por isso, por ser uma aventura, por ser algo que, por vários motivos, dificilmente faríamos numas férias comuns e por querermos que a nossa Lua de mel fosse mesmo isso, única.
Feitas as devidas introduções, embarquem agora connosco na viagem mais longa das nossas vidas, literalmente. Não foi fácil definir os pontos de passagem, que cidades visitar e quantos dias dedicar a cada uma, visto que a Austrália encerra em si todo o tipo de experiências e um pouco de cada continente. É quase como fazer uma volta ao mundo, com metrópoles ao género de Nova Iorque, cenários de praia ao estilo das Caraíbas, outras a lembrar Miami, desertos semelhantes aos americanos, montanhas ao estilo dos Alpes e gastronomia condizente com tudo isto. Perfeito não é? Principalmente se tivermos três meses de férias…nós tínhamos três semanas e, excluindo quatro dias de viagem, entre ida e volta, sobraram-no 15 dias para explorarmos este mundo. Portanto, não percamos mais tempo!
40 horas depois de sairmos do Porto, com 22 horas de voo e duas escalas pelo meio, lá chegamos a Melbourne, a cidade que seria o princípio e o fim da nossa jornada. Por muito que fosse o cansaço da viagem, foi completamente anulado pela excitação de aterrar num destino novo, completamente desconhecido. Excitação essa que era crescente à medida que nos íamos inserindo na cidade. Isto, porque Melbourne sabe mesmo receber os turistas. Autocarro direto do aeroporto ao centro da cidade, rápido, com wi-fi gratuito, por 18 dólares (https://www.skybus.com.au/), mas ainda melhor do que isto, só mesmo o serviço de autocarros grátis, da mesma companhia, que leva os turistas da estação central ao seu hotel, qualquer que ele seja, fazendo também o transporte inverso, no horário pretendido pelos turistas. A ajudar à festa, o eléctrico é gratuito no centro turístico da cidade.
Entusiasmados, pousámos as malas no hotel (Jasper Hotel), bastante central, o que nos permitiu explorar tudo a pé ou de eléctrico, e saímos para fazer o reconhecimento da cidade, andar sem destino, embora rapidamente o destino se tenha materializado na forma de uma loja H&M, para nos munir de cachecóis e roupas quentes, tal era o frio que se fazia sentir. Embora fosse primavera, as temperaturas eram de inverno, o que na verdade não quer dizer rigorosamente nada, porque o clima em Melbourne é bastante “senhor do seu nariz”, como viríamos a perceber mais tarde.
No dia seguinte, saímos cedo e começamos então a explorar. Melbourne é uma cidade bastante moderna e organizada, com edifícios altos a lembrar NY, mas bastante mais tranquila, sem o frenesim que caracteriza a Big Apple. As principais atracões turísticas são bastante próximas, o que nos permitiu visitá-las num só dia. Começamos na Flinders Street station, mesmo ao lado da Federation Square e da catedral de São Paulo, seguimos pelo rio e terminamos a manhã bem alto, no edifício Eureka, onde existe um observatório panorâmico da cidade. Amantes de comida como somos, e fãs incondicionais do Masterchef Australia, não poderíamos deixar a gastronomia fora do nosso roteiro e por isso a nossa paragem para almoço foi no Gazi, o restaurante do chef George Calombaris, um dos jurados do programa. Restaurante de gastronomia grega, sem pretensões de restaurante gourmet, de ambiente jovem e descontraído, onde se pretende que a refeição seja antes uma experiência de conforto e convívio. Convém reservar pois é bastante procurado.
Já de barriga (bem) cheia, a vontade que se impunha era a de caminhar e foi o que fizemos, pelos jardins botânicos da cidade, terminando no Shrine of Remembrance, um museu gratuito e muito bem estruturado sobre o papel da Austrália nas guerras mundiais.
Jantámos também pelo centro da cidade e regressámos ao hotel, pois o dia seguinte começaria bem cedo. Era dia de ir para o deserto. Mas ainda não é tempo de falar sobre o deserto, vamos manter-nos no estado de Victoria, na cidade de Melbourne, onde voltámos duas semanas depois, já um pouco nostálgicos com a iminência do fim de uma Lua de Mel maravilhosa, pois o nosso voo de regresso à Europa sairia de lá.
Havia ainda dois dias para nos despedirmos devidamente da Austrália, que no plano inicial seriam passados tranquilamente em Melbourne. Bom, este era o plano inicial, contudo, sedentos de aventura e decididos a não aceitar que a viagem estivesse já no fim, optámos por trocar o conhecido pelo desconhecido.
Cancelámos a nossa estadia no centro da cidade, fizemos nova reserva de carro, e passámos a primeira noite num hotel próximo do aeroporto, uma vez que a nossa chegada a Melbourne foi ao final da noite. Dormimos uma boa noite de sono, recuperámos energias e no dia seguinte lá estávamos nós, prontíssimos para explorar a Great Ocean Road, ou pelo menos a parte dela que o nosso tempo permitia. Afinal, é isto que nos faz feliz, seguir viagem.
Fizemos os cerca de 200 km que separam Geelong (o início da Great Ocean Road para quem vem de Melbourne) dos 12 Apóstolos, um dos principais pontos turísticos desta rota, e foi das experiências mais surreais que tivemos na Austrália e até em todas as nossa viagens. Desenganem-se se, tal como nós, pensavam que dado o nome da estrada, ela seguiria sempre junto ao mar. Pois, ela segue, de facto, junto ao mar, durante cerca de 100km, até Apollo Bay, que é sem dúvida, uma das vilas mais bonitas que se encontram neste trajeto. Perdida entre o mar e as montanhas, aqui parece que o tempo pára para nos deixar fotografar mentalmente este cenário saído de histórias passadas.
A partir deste ponto, deixámos de ver o mar e seguimos pelo interior, que começa por ser de floresta tropical, com árvores altíssimas e de troncos finos e húmidos, e termina em prados verdejantes habitados por dezenas de cabras, ovelhas e vacas, protegidos por montanhas que nos trazem logo à memória “Música no Coração”. E quando já estávamos habituados a este cenário, eis que voltámos à beira-mar e aos penhascos e, inesperadamente, lá estão eles, os 12 Apóstolos, solitários e majestosos (e ventosos), com o mar a seus pés. Não são 12, apenas 8, mas merecem a visita na mesma. E acima de tudo, a Great Ocean Road merece ser percorrida.
Este percurso demorou-nos cerca de cinco horas, com algumas paragens para apreciar a paisagem, e apenas nestas cinco horas, a temperatura foi dos 37ºC que se faziam sentir em Melbourne (sim, em Melbourne onde duas semanas antes andávamos de cachecóis) até aos 13ºC que se faziam sentir no destino final. Percebem agora que o tempo, por estes lados, tem humor e vontade própria. Depois dos 12 Apóstolos seguimos até Timboon, a cerca de 20km, onde passámos a nossa última noite na Austrália. E a escolha não podia ter sido melhor. Uma cabana refugiada no meio do nada, só nós e a vida selvagem, em verdadeiro estado de Lua de Mel.
O dia seguinte foi dia de adeus, de adeus à “nossa” adorada cabana, de adeus à última esperança que ainda restava de vermos coalas em natureza, de adeus a um país que nos ofereceu a maior aventura das nossas vidas. Mas foi também de olás, de olá a Paris, que ansiosamente aguardávamos na esperança de que esta viagem não terminasse tão cedo e de olá a uma nova vida, na qual pomos tanta paixão como nas nossas viagens.
Notas:
Orçamento para estes quatro dias: Aproximadamente 400 euros para os dois (para despesas de refeições, gasóleo, portagens...);
Como chegámos lá: Voo da Air China (Paris-Pequim-Melbourne), pelo valor de 780 euros por pessoa, ida e volta. Foi comprado ainda o voo da TAP do Porto para Paris, acrescendo o custo de 120 euros por pessoa, também de ida e volta;
Aluguer de carro: Dois dias para a Great Ocean Road, 55 euros, excluíndo portagens e abastecimento; Reservado online no Rental Cars. Levantado e devolvido no aeroporto de Melbourne.
Mês escolhido: Setembro/Outubro. Primavera a começar;
Preço médio da refeição: Se for em restaurante, com entrada, prato, copo de vinho e sobremesa, pagam no mínimo 50 euros por pessoa. Refeições mais simples rondam os 20 euros por pessoa;
Alojamento: Jasper Hotel, no centro de Melbourne, 170 euros por duas noites, sem pequeno almoço;
Ibis Budget, perto do aeroporto, 90 euros uma noite, sem pequeno almoço;
Curdie River Retreat, em Timboon-Curdievale, 105 euros uma noite, com pequeno almoço;